Orquestra Popular da Bomba do Hemetério | pt

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Em fevereiro de 2007, no Recife, foi lançado o primeiro CD oficial da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, “Jorrando Cultura”, com onze canções que trazem parte da riqueza cultural da Bomba do Hemetério, comunidade que integra o bairro de Água Fria, situado na zona norte da capital pernambucana. A equipe, idealizada e liderada pelo compositor, arranjador e instrumentista Maestro Forró, vem conquistando cada vez mais elogios em suas apresentações por mostrar arranjos fora dos padrões para as orquestras de frevo, unindo características eruditas e populares. O grupo realiza um trabalho de pesquisa, manutenção, releituras e interações da nossa música regional com variados ritmos do mundo.

“Jorrando Cultura”, segundo o Maestro Forró, é o resultado de uma política interna de prática e incentivo de composições e arranjos (estes últimos, dele próprio e mais, Parrô, Waltinho D’Souza e Natanael Dádiva), além de registrar releituras de músicas conhecidas como “Vassourinhas”, “Cabelo de Fogo” e “Elefante”. “Na Orquestra, há um incentivo ao estudo e a pesquisa, tanto acadêmica, quanto na vivência ao nosso redor. Isso porque é preciso também estar antenado com a música contemporânea, que quer dizer ‘do nosso tempo, de agora’”, diz o Maestro. Segundo ele, no grupo, além da própria criação musical, há ainda uma discussão constante sobre a posição classista de cada músico, abordando questões como profissionalismo, cidadania e ética.

A equipe é composta por 21 integrantes, sendo 18 músicos (cinco saxofones; quatro trompetes; 04 trombones de vara; 01 tuba; 01 baixo elétrico; 03 percussionistas, 02 cantores – Valéria e D’Ângelo Espíndola; e o Maestro Forró) e três técnicos (um iluminador, um roadie e um técnico de som), todos moradores da comunidade. “Um dos nossos objetivos é valorizar a mão-de-obra local”, diz o Maestro Forró. O CD de estréia foi realizado com produção independente (recursos próprios) e certo incentivo do SIC Municipal e conta ainda com a participação de brincantes daquele bairro da zona norte recifense, como o Mestre Walter - personagens que representam genuinamente a alma popular contemporânea.

A capa do CD faz referência a uma bomba d’água que jorra cultura (despejando alguns instrumentos musicais), símbolo da comunidade que passou a ser chamada Bomba do Hemetério porque, entre as décadas de 30 e 50, o único a possuir água naquela localidade era um tal de Seu Hemetério. O trabalho reúne variados ritmos como o frevo, coco, valsa, rock, mangue beat, samba de latada (ou de matuto), samba de gafieira, cavalo-marinho, xaxado, maracatu e até influências de outros países como o norte-americano fox-trot ou o hino da França e trecho de “La Vie em Rose”.

“Quando viajei pelo Leste europeu percebi o quanto são parecidas as características dos cantos muçulmanos com o aboio nordestino. É essa interação musical que nos interessa”, confessa. Segundo ele, o CD “Jorrando Cultura” traz como principal diferencial uma certa preocupação acadêmica – no sentido de estudo dos próprios músicos – com elementos presentes nos brincantes bombenses, como são chamados os artistas populares da Bomba do Hemetério, com mais de 40 anos dedicados à arte. “Nossa comunidade é a mais rica em termos de cultura popular, é tanto que são inúmeras as nossas manifestações”. Para citar alguns exemplos, ele lembra a Escola Gigante do Samba, o Reisado Imperial, Zé Amâncio do Coco, a Tribo Canindé, o Boi de Nelson, a troça carnavalesca Abanadores do Arruda, o Maracatu Leão Coroado e o Maracatu Nação Elefante.

As músicas trazem uma mistura de ritmos constantes, como, por exemplo, na canção “Frevando em Bomba do Hemetério”, que começa com o frevo, depois passa para o xaxado e o cavalo-marinho, retornando ao frevo. Outra característica, além da variedade de estilos rítmicos, é explorar os contrastes, algo que é bem próprio do período barroco. A dinâmica é valorizada em todos os sentidos, muitas vezes “brincando” do som fortíssimo ao pianíssimo.

TRAJETÓRIA - A Orquestra Popular da Bomba do Hemetério foi formada em 2002, a partir de um desejo do Maestro Forró de articular os músicos de sua própria comunidade, despertando neles um interesse mais acadêmico e, futuramente, mercadológico. “Eu sentia a necessidade de laboratoriar os arranjos que eu criava. Precisava, então, de músicos para tocá-los e fui, ao mesmo tempo, incentivando-os a compor e a fazer arranjos também”, revela o Maestro, afirmando que a proposta da equipe é pesquisar e fazer releituras de músicas do mundo.

Com pouco mais de seis meses de formação, surgiu uma parceria com Um Bloco em Poesia e, em troca de um show, foi viabilizada a capa de um CD demo, intitulado “Orquestra Popular da Bomba do Hemetério Ao Vivo”. Com mil cópias produzidas, o CD passou a ser disputadíssimo nos shows. Em 2003 veio a grande vitrine, com shows no carnaval organizado pela Prefeitura do Recife. A partir daí, várias outras comunidades da cidade passaram a “exigir” o show da OPBH. Segundo o Maestro Forró, a Orquestra toca o ano todo, tanto que eles até organizaram o show “Fole Assoprado”, específico para o período junino, além de um show para rua e outro para palco. A equipe, até hoje, realiza dois ensaios semanais – diferente da maioria das orquestras de frevo, que costumam se reunir somente próximo ao carnaval.

Outro diferencial nos shows de rua, composto somente por músicas instrumentais, é que a OPBH propõe uma interação com a platéia, com toda a Orquestra bailando em bloco e contagiando o público que passa a participar dos movimentos descendentes e ascendentes de forma extremamente alegre. A partir da prática de som e corpo imprimido pela OPBH, todas as orquestras de frevo passaram a adotar tal princípio interativo por ser lúdico e funcional. E mais: na hora que todos se abaixam, aproveitam para descansar as pernas de folião. “Acredito que tocamos com a alma, com alegria e isso, sim, aprimora nossa qualidade musical e cênica”, define o Maestro, que teve experiências no teatro também.

Em sua elogiada trajetória, a OPBH já fez participações no CD do filme “A Máquina”, de João Falcão; no CD “Nação Canta Pernambuco”, do Maracatu Não Pernambuco, acompanhando Antônio Carlos Nóbrega e no CD e DVD “Music From Pernambuco”, distribuído pelas feiras internacionais de música na Europa, além de show no Parque Ibirapuera, em São Paulo e Brasília e aparições em programas nacionais de TV como Ana Maria Braga e Regina Casé.

http://www.opbh.com.br/ .

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