Chick Corea | pt

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Oriundo de uma família musical, Armando Anthony Corea começou a tocar piano aos quatro anos e desde cedo escutava tanto os mestres do jazz como os mestres da música clássica. Iniciou sua carreira tocando com as bandas de Mongo Santamaria, Willie Bobo (1962-1963) e Blue Mitchell (1964-1966). Gravou seu primeiro disco como líder em 1966. De 1968 a 1970 tocou com Miles Davis, exatamente durante a célebre fase de transição para o jazz-rock, participando dos discos Filles de Kilimanjaro, In a Silent Way e Bitches Brew. Isso sem dúvida contribuiu para tornar seu nome mais conhecido. Ao deixar o grupo de Miles, Corea tocou por um breve período com o grupo de vanguarda Circle, formado por Anthony Braxton, Dave Holland e Barry Altschul. Em um dos primeiros discos de Corea para o selo ECM, intitulado A.R.C., de 1971, o grupo que toca é um trio: o Circle sem Braxton. Depois do Circle, Corea formou um dos grupos mais influentes do então emergente estilo fusion, o Return to Forever, que teve diversas formações entre 1971 e 1977, sempre com Stanley Clarke ao contrabaixo.

Entre meados dos anos 70 e meados dos anos 80, Corea esteve envolvido em diversos projetos diferentes: duos com o pianista Herbie Hancock (1978) e com o vibrafonista Gary Burton (1979), um quarteto acústico de jazz post-bop (Three Quartets, de 1981, com Michael Brecker, Eddie Gomez e Steve Gadd), gravações com conjuntos grandes (The Leprechaun, de 1975, My Spanish Heart, de 1976, e The Mad Hatter, de 1978), além de uma turnê reagrupando o Return to Forever em 1983. Em 1985, já no selo GRP, Corea formou um novo grupo de fusion, a Elektric Band, e um pouco depois a Akoustic Band. Em ambas as formações o contrabaixista era o jovem e brilhante John Patitucci.

Nos anos 90, Corea continuou produzindo uma obra diversificada, incluindo discos solo, um tributo a Bud Powell (1996) e um reencontro com Gary Burton (1997). Em 1992 Corea fundou seu próprio selo, o Stretch, que depois se tornaria uma subsidiária da Concord. Em 1998 formou um novo grupo acústico, o Origin, que estreou no clube Blue Note. O grupo conta com a presença de outro jovem e talentoso contrabaixista, Avishai Cohen.

O estilo de Corea é multifacetado, adaptando-se aos diferentes tipos de instrumento que utiliza - piano acústico, piano elétrico, teclados portáteis de tessitura reduzida, sintetizadores com muitos recursos. Não obstante, podemos tentar identificar alguns elementos predominantes. O fraseado de Corea é sempre nítido e bem delineado, claramente focalizado, mesmo nas passagens mais rápidas. Está literalmente repleto de síncopas, mormente nas execuções em estilo mais fusion. Também são características as progressões cromáticas ascendentes e descendentes. Os improvisos de Corea apresentam um fraseado complexo, possuindo uma verdadeira estrutura interna. Embora capaz de tocar passagens suaves, Corea em geral se revela um pianista de toque mais vigoroso do que um Bill Evans, por exemplo - de quem no entanto pode ser considerado um herdeiro no plano harmônico.

A técnica pianística de Corea exibe uma notável independência entre mão esquerda e direita, mas isso não exclui o uso freqüente de oitavas paralelas. No plano harmônico, não é raro encontrar quartas superpostas, bem como acordes politonais, isto é, formados pela superposição de dois acordes distintos. A ornamentação é sempre bastante elaborada - mais um traço que o aproxima de Evans. Uma boa introdução ao estilo de Corea é o ensaio que a pianista e professora universitária Monika Herzig publicou na Internet, intitulado “Chick Corea - A Style Analysis” (Chick Corea - Uma análise estilística). (Algumas das noções aqui expostas acham-se corroboradas naquele ensaio; algumas outras foram por ele sugeridas, dívida que com satisfação registro aqui.)

Chick Corea é, sem dúvida, um dos mais versáteis e técnicos pianistas da atualidade. Como se pode perceber pela discussão acima, o acervo de técnicas que ele utiliza em suas execuções denota um total domínio do instrumento. Além disso, dono de vasta bagagem musical, Corea mantém-se aberto às mais variadas influências, incluindo a música brasileira e latina. Também fez da alternância entre o piano acústico e os teclados eletrônicos um hábito constante. Estas duas últimas características, convém lembrar, valeram-lhe algumas críticas. No que se refere ao repertório, cabe destacar a onipresente “Spain”, tema composto em 1972 e que desde então vem reaparecendo na carreira de Corea sob as mais diversas formas - piano solo, grupos acústicos, grupos elétricos, big bands de fusion, arranjos sinfônicos - sem falar nas dezenas de versões feitas por outros músicos.

Numa tentativa de fazer um balanço da carreira de Corea, duas constatações de caráter geral são certas: primeiro, independente do estilo que estiver adotando num dado momento, ele sempre se cerca de músicos altamente competentes. Segundo, quer se esteja junto com aqueles que preferem o seu lado mainstream, quer com aqueles que preferem o lado fusion, a obra de Chick Corea é tão extensa e bem desenvolvida que inclui material mais do que suficiente para agradar fãs de ambos os lados. .

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